Paulo Corrêa de Luca

Porto reabre, mas o governador se fecha

Por ocasião da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Santa Catarina para a cerimônia de retomada das operações do Porto de Itajaí, esperava-se ver ali não apenas o simbolismo de um investimento federal importante, mas também a união de forças políticas em torno de um interesse comum: o desenvolvimento do estado. Infelizmente, essa não foi a imagem que se viu.
O governador Jorginho Mello optou por não comparecer ao evento, justificando compromisso prévio no município de São Lourenço do Oeste. A ausência, no entanto, não pode ser tratada como um detalhe de agenda, ela tem peso político e institucional.
Trata-se do relançamento de um dos portos mais importantes do Sul do Brasil, um ativo estratégico para a economia catarinense e nacional, agora sob nova administração e com promessas concretas de investimento federal. Independentemente das divergências passadas em torno da federalização do Porto de Itajaí, o momento pedia grandeza. Pedia liderança. Pedia presença.
É compreensível que haja frustrações com o processo que levou à federalização. A transição gerou tensão entre o governo estadual, a prefeitura e a União. Mas uma vez superada essa etapa, o foco precisa se deslocar para o que realmente importa: garantir que Santa Catarina continue a crescer, com infraestrutura moderna, empregos e competitividade.
Jorginho Mello, ao se ausentar, perde uma oportunidade estratégica de mostrar que sabe colocar os interesses do estado acima de suas preferências ideológicas. Perde a chance de reivindicar, de negociar, de participar das decisões sobre um equipamento que impacta diretamente a economia catarinense.
Há um exemplo claro que poderia servir de inspiração: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, politicamente alinhado com a oposição ao governo federal, não hesita em dividir o palco com o presidente quando isso significa garantir investimentos para seu estado. Porque ali, antes de adversário político, ele é governador. E sabe o peso que isso carrega.
Dizia o saudoso Dr. Nereu Ramos, ex-presidente da República e ex-governador do estado: “Política é a arte de engolir sapos”. É saber que, muitas vezes, o diálogo com quem pensa diferente pode render mais frutos do que o embate contínuo. Governar exige maturidade institucional. E nesse episódio, infelizmente, faltou isso ao governador catarinense.
Não se trata de apoiar o presidente, tampouco de renunciar a convicções políticas. Trata-se de comparecer quando Santa Catarina está em pauta. De estar onde as decisões estão sendo tomadas. De entender que o papel de um governador é, antes de tudo, defender o estado que representa.
O Porto de Itajaí está de volta às operações, e isso deve ser celebrado. Mas a ausência do governador nesse momento histórico também precisa ser registrada, como um erro. Porque, quando se trata de desenvolvimento regional, o palanque precisa dar lugar à responsabilidade.
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