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Florianópolis,13/09/2025

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Andréa Vergani

A SÍNDROME DA IMPOSTORA, O Peso Invisível que Nos Afasta da Liderança


A SÍNDROME DA IMPOSTORA, O Peso Invisível que Nos Afasta da Liderança

Luiza Helena Trajano, ao prefaciar o livro Faça Acontecer, de Sheryl Sandberg, menciona com sabedoria que, antes de nós, mulheres, vencermos as barreiras externas — aquelas impostas pelo machismo estrutural — precisamos enfrentar as nossas barreiras internas.

Essas barreiras (internas) são silenciosas, persistentes e invisíveis. Elas se manifestam como uma voz interna que nos diz que não somos capazes, que não estamos prontas, que não pertencemos aos espaços de decisão. É a voz que nos faz hesitar, não levantar a mão em reuniões, não compartilhar uma ideia brilhante, não disputar aquela vaga de liderança.

Essa é a essência da síndrome da impostora — um fenômeno que faz com que pessoas competentes, principalmente as mulheres, duvidem de suas próprias capacidades. 

E é fundamental termos consciência de que esse sentimento é muito mais comum entre nós, mulheres. E isso não é coincidência.

Desde a infância, meninas e meninos são expostos a estímulos distintos. Enquanto elas são incentivadas a serem doces, cuidadosas, vaidosas e até passivas, eles são encorajados a serem ousados, corajosos, ativos e assertivos. Essa diferenciação se reflete em adjetivos usados pelos cuidadores e professores ao se referirem às crianças, em brinquedos, desenhos animados, livros e até nas temáticas das festas infantis: princesas frágeis e passivas para as meninas; super-heróis corajosos e independentes para os meninos.

Nos filmes e livros, vemos princesas que aguardam ser salvas por príncipes — protagonistas de uma narrativa em que a ação cabe a eles, e a passividade, a elas.

Além disso, as habilidades e comportamentos valorizados pelos nossos cuidadores, professores e pela sociedade como um todo também seguem essa lógica de gênero. Quando crianças, os elogios que recebemos são diferentes: meninas costumam ser elogiadas pela aparência, pela gentileza e pelo cuidado; meninos, por sua coragem, força e inteligência.

Essa diferenciação sutil, mas contínua, molda profundamente nossa autopercepção de competência e pertencimento.

Segundo um estudo publicado na revista Science (Bian, Leslie & Cimpian, 2017), meninas de apenas seis anos já se consideram menos inteligentes que os meninos, mesmo quando apresentam desempenhos iguais ou superiores em tarefas cognitivas.

Dados da Harvard Business Review reforçam esse padrão: mulheres tendem a se candidatar a uma vaga de emprego apenas quando atendem a 100% dos requisitos, enquanto homens o fazem mesmo cumprindo apenas 60% a 80%. Esse comportamento revela uma autoconfiança limitada, que muitas vezes nos impede de buscar oportunidades que temos total capacidade de assumir.

A ausência de referências femininas em posições de liderança também contribui para a sensação de inadequação e não pertencimento. Quando olhamos para o topo das empresas, para a política, para a ciência ou para os meios de comunicação, ainda vemos prevalecer uma esmagadora maioria masculina.

Sim — a representatividade importa. E muito. Ela amplia horizontes, fortalece o sentimento de pertencimento e mostra, na prática, que é possível chegar lá.

A síndrome da impostora não impacta apenas o bem-estar emocional das mulheres. Ela compromete diretamente o nosso crescimento profissional, econômico e social.

E ela pode se manifestar de diversas formas. Muitas mulheres relatam dificuldade em cobrar pelo próprio trabalho, negociar salários, impor limites ou dizer “não” a demandas abusivas, ou, ainda, aceitar cargos de liderança.  

O medo de não corresponder às expectativas e não “estar à altura” também pode levar a ansiedade e autossabotagem. E isso não afeta apenas a mulher — afeta também as organizações e a sociedade, como um todo, que perde inovação, liderança e diversidade de pensamento.

Não é por acaso que com frequência, atribuímos nossas conquistas à sorte ou a fatores externos, e não ao nosso próprio mérito. Mais do que isso: sentimos receio de falar sobre ou valorizar nossas conquistas, com medo de sermos taxadas como arrogantes ou prepotentes.

Superar a síndrome da impostora não é uma tarefa individual. É um desafio coletivo e estrutural. Precisamos construir uma cultura que valorize a diversidade, incentive a autoconfiança feminina e promova a equidade de gênero desde a infância.

Precisamos de mais mulheres em posições de liderança. Mais mulheres ousando, discordando, propondo. Mais meninas crescendo com referências reais de força, inteligência e protagonismo feminino.

Como afirma Luiza Helena Trajano, a transformação começa por dentro — mas exige também uma mobilização externa. E essa transformação começa agora, com cada mulher que ousa levantar a voz, ocupar seu lugar e inspirar outras a fazerem o mesmo. E em cada organização que entende a importância dessa diversidade.



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