Andréa Vergani
FÉRIAS ESCOLARES E O TRABALHO DO CUIDADO

Totalizando mais de dois meses ao longo do ano, as férias escolares revelam uma conta que não fecha e uma realidade insustentável. O trabalho de cuidado — seja com a casa, filhos, pessoas idosas ou familiares com doenças e deficiências — é essencial para a manutenção da sociedade.
Entretanto, além de ser invisibilizado, não é remunerado tampouco valorizado, e sua responsabilidade é distribuída de forma desproporcional, recaindo principalmente sobre as mulheres, que recebem pouco ou quase nenhum apoio dos homens, das empresas privadas e do Estado.
É importante mencionar que a pandemia fez retroceder as mulheres no mercado de trabalho em 30 anos.
De acordo com a organização global Oxfam (Comitê de Oxford para o Alívio da Fome), as mulheres realizam mais de três quartos do trabalho de cuidado não remunerado no mundo, totalizando impressionantes 12,5 bilhões de horas diariamente.
Um estudo do FGV IBRE, divulgado em outubro de 2024, revela que as mulheres dedicam até 25 horas por semana a afazeres domésticos e cuidados, enquanto os homens passam cerca de 11 horas, o que representa uma diferença de, pelo menos, duas horas diárias ou 60 horas mensais.
Embora o tema tenha ganhado visibilidade recentemente, tendo sido abordado, inclusive, na redação do ENEM em 2023, são poucas as ações que efetivamente contribuem para a mudança dessa realidade. Iniciativas como "Educar no Verão 2025", promovida pelo Prefeito Topázio, são bem-vindas e merecem reconhecimento, mas ainda são insuficientes e precisam ser ampliadas e integradas a outras ações do setor privado e da sociedade civil.
Não surpreende que muitas pessoas, principalmente mulheres, estejam optando cada vez mais por não ter filhos. Da mesma forma, é compreensível que muitas mulheres, quando não são dispensadas de seus empregos após a maternidade, busquem o empreendedorismo em busca de maior flexibilidade. Afinal, sabemos que "É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança". Infelizmente, essa aldeia, muitas vezes, é composta por uma única pessoa e, na maioria delas, uma mulher.
Em dezembro do ano passado, foi sancionada a Lei n. 15069, que estabelece a Política Nacional de Cuidados, garantindo o direito ao cuidado e propondo a corresponsabilidade social entre Estado, família, setor privado e sociedade civil. Embora essa legislação tenha chegado atrasada, representa uma esperança para milhões de mulheres sobrecarregadas, cujos estudos e carreiras estão pausados, cuja vida social é praticamente inexistente e cuja saúde mental está comprometida.
Em suma, a questão do trabalho de cuidado é fundamental para o progresso social e econômico. A desigualdade na distribuição dessas responsabilidades não apenas perpetua uma carga desproporcional sobre as mulheres, mas também limita o potencial não só das mulheres, mas de toda a sociedade.
Para que possamos avançar em direção a uma realidade mais justa e equilibrada, é imprescindível que todos os setores — incluindo o governo, as empresas e a sociedade civil — se unam para promover políticas e ações que valorizem e reconheçam o trabalho de cuidado. Somente através do esforço conjunto e da corresponsabilidade poderemos garantir um futuro em que todas as pessoas, independentemente de gênero, possam prosperar e ter suas necessidades atendidas, assim como desfrutar de uma qualidade de vida digna. O compromisso com essa transformação é essencial não apenas para as mulheres, mas para o fortalecimento da sociedade como um todo. Portanto, é hora de agir e construir uma aldeia verdadeiramente inclusiva, onde cada voz é ouvida e cada contribuição é valorizada.
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