Conversar com Cristiane Schwinden é mergulhar em uma história de resistência, criatividade e paixão pela literatura. Criadora do Projeto Lettera, fundado em setembro de 2015, ela construiu praticamente sozinha uma plataforma que se tornou referência em literatura lésbica e LGBT no Brasil. 

“Eu já estava com a ideia de fazer um site coletivo, pra todo mundo poder colocar suas histórias de graça e todo mundo poder ler de graça também. Daí, o site que fazia isso na época, que se chamava BC Less, ele morreu de dia pra noite. A autora resolveu tirar esse site lá. E as meninas ficaram loucas, né? Tinha muita visitação. E como eu sou programadora, eu resolvi, então, assumir esse B.O. Eu vou criar rapidinho aqui um, só pra colocar no ar, pras meninas poderem colocar suas histórias e suprir esse vácuo. Então, em 48 horas, eu consegui criar um site e jogar no ar, já pro pessoal ir alimentando”, contou Cristiane. 

De lá pra cá, o Lettera cresceu. Hoje reúne mais de oito mil histórias publicadas, entre contos, poemas, romances e crônicas, além de uma comunidade engajada com diversos comentários registrados. Para Cristiane, a satisfação maior não vem de números, mas do impacto real que o site tem na vida das autoras. “Pra mim é satisfação ver que tantas pessoas estão se conectando através do meu site. Tem muita gente que, inclusive, começa ali e a carreira vai se aprofundando ali, recebendo comentários, tendo feedback. Algumas depois vão pra Amazon, lançam livros. Tem autora que hoje em dia já está até com uma carreira literária, começou a ler no Lettera, já está conseguindo se manter da literatura”, disse. 

Com quase 20 anos de experiência como escritora, Cristiane sabe bem a importância da coletividade: “Não existe trabalho ruim, trabalho ruim é a página em branco. Começa, deixa só para você, escreva, deixe para revisar depois, só escreva, vá colocando no papel. Quando você se sente segura, coloque na rede, coloque no Lettera ou outro lugar que você desejar e você vai ter um feedback da comunidade. O legal é que elas dão um feedback sincero.”

Apesar da força do projeto, os obstáculos são muitos. Concorrer com a Amazon e manter a estrutura do site sem apoio financeiro são os maiores deles. “Hoje em dia, o maior obstáculo ainda é concorrer com a Amazon, que é difícil, até porque eu não tenho nenhum ganho, lá é tudo de graça. A Amazon cobra pela assinatura. E eu tô meio que já limitada, eu não consigo fazer mais do que eu já faço sem gastar dinheiro, né? Então, no momento, eu não consigo ampliar a divulgação.” 

Mas os sonhos continuam. “Eu gostaria de transformar o Lettera num aplicativo para celular, porque hoje em dia ele é só site. Algumas meninas me perguntam: por que você não faz o aplicativo? Seria melhor para mim, hoje em dia eu tenho a internet limitada. Então, é uma coisa que eu preciso tirar um tempo para fazer, mas o problema é achar o tempo, porque a equipe é uma pessoa só, então é complicado.” 

Além do site, Cristiane também criou a Editora Lettera, que já publicou uma antologia de ficção científica, seus próprios livros e o trabalho de uma amiga. Agora, prepara o lançamento do seu quinto livro, “2121”, uma distopia que carrega, segundo ela, um lugar especial em sua trajetória: “Foi o que eu mais fiz pra eles, porque é o meu filho preferido.” 

E o recado final que ela deixa para jovens autoras é simples e direto: “Porque lá você vai se enxergar no site. Você vai ter todo tipo de história, todo tipo de personagem, tem representatividade, tem histórias com esqueleto, tem todo tipo de personagem, de história. 

Então você vai conseguir se enxergar lá no site. De um jeito ou de outro você vai se enxergar lá.”