Em disputa acirrada, a equipe sul-mato-grossense conquistou o último título no sábado (17), ao vencer o Vasco da Gama nos pênaltis. Caira derrota o Vasco nos pênaltis e é campeão brasileiro de futebol PC
Pentacampeão! O Caira, de Mato Grosso do Sul, venceu o Vasco da Gama nos pênaltis, após empate em 1 a 1 no tempo regular, e conquistou o quinto título do Campeonato Brasileiro de Futebol PC, no último sábado (17). A disputa foi realizada no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo. Veja o vídeo acima!
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O time nasceu como um "braço" de uma associação para pessoas com deficiência, fundada em 1986, em Campo Grande, capital do estado. Inicialmente, ofertava várias modalidades, como basquete, atletismo, natação, canoagem, tiro esportivo, entre outros, além do futebol.
Atual presidente do Caira, Yara Yule está na equipe desde o começo, são mais de 25 anos trabalhando com o paradesporto.
"O futebol (PC) ganhou um destaque (na Associação) de 2007 pra cá. A gente foi conquistando títulos através do trabalho desenvolvido e pela paixão, pela inclusão da pessoa com deficiência através do esporte", contou ao ge MS.
Time do Caira campeão brasileiro em 2013.
Arquivo pessoal
Marcos Ferreira, conhecido como Marcão, também está no projeto desde o começo. Começou como jogador e hoje é o técnico do time. A convite, do então técnico Souza, ele foi treinador de goleiros e depois assumiu a função principal de comando. A bagagem de Marcos explica o convite e a ascensão.
Caira derrota o Vasco nos pênaltis e é campeão brasileiro de futebol PC
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Marcão foi goleiro da Seleção Brasileira de futebol PC em seis Paralimpíadas, conquistou uma prata (Atenas) e dois bronzes (Sydney e Rio de Janeiro). Em 2007 encerrou a carreira dentro de campo e começou a sua trajetória fora das quatro linhas.
"A gente sempre estava chegando e, por detalhe, não conseguia o título. Perdemos o retrasado por saldo de gols, ano passado um gol nos acréscimos, e esse ano foi uma realização", descreveu.
Marcos Ferreira, circulado em vermelho, em participação nas Paralimpíadas no Rio de Janeiro.
Arquivo pessoal
O único título em que Marcos não esteve a frente como técnico foi em 2007, depois os títulos foram erguidos em 2011, 2013 e 2022, além do triunfo neste ano.
Formador. Essa é uma palavra que define bem o Caira, time que sempre coloca jogadores em ciclos paralímpicos e abastece outro clubes nacionais. Exemplos disso não faltam, desde Marcão, nascido em Dourados e criado em Campo Grande, ambas cidades de Mato Grosso do Sul, até o atual elenco.
"Nosso principal rival sempre foi o Rio de Janeiro, inclusive, eles buscam atletas nossos. Teve época de estar num campeonato, a gente pegar a lista, e ter o time deles quase todo com atletas daqui", revelou.
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Natural de Brasília-DF, Ângelo Matheus Mota joga pelo Caira desde 2023. Ele chegou por convite de Marcão e outros atletas do time, e tem se tornado figurinha carimbada em convocações da Seleção Brasileira, do Sub-21 ao principal.
"Eu tive interesse e um carinho enorme por eles (Marcão, etc.) em jogar por esse grande clube, ainda mais com os projetos que eles me apresentaram. Me sinto muito realizado", contou.
Convocação – Em preparação para o Mundial do ano passado, seis atletas do Caira foram convocados para a Seleção Brasileira, sendo eles: Ângelo Mota, Eduardo Martins, Heitor Ramires, Jefferson Luiz da Silva, Matheus Cardoso e Moacir Matos.
Jogos Parapan-Americanos - Santiago 2023 -Seleção Brasileira de Futebol PC
Washington Alves/CPB
Ângelo segue morando na capital federal, mas já estuda mudar para Campo Grande nos próximos anos, mirando uma melhoria no treinos, a proximidade com a equipe e os benefícios garantidos, como o Bolsa Atleta.
"Eu também faço atletismo aqui em Brasília, estamos conversando aos poucos pra ajeitar isso. Mas eu sigo treinando por aqui e espero ser convocado novamente pra representar o Caira e MS na Seleção", disse.
Experiente, Moacir Ferreira Matos é um dos pioneiros no Caira, chegou em 2011, ano do bicampeonato brasileiro, e viu várias gerações se unirem. Goleiro, ele já participou de Paralimpíadas, Parapan e Sul-Amerianos, com direito a medalhas e ouro, prata e bronze.
"O nosso maior sonho hoje é ser campeão mundial, que ainda não conseguimos. Mas uma lembrança muito bacana é que a gente nunca perdeu pra Argentina", brincou.
Moacir e Yara, ele foi eleito o melhor goleiro do Brasileiro em 2012, 2018 e 2022.
Arquivo pessoal
Na vitória sobre o Vasco, no último sábado (17), ele foi essencial. Se recuperando de uma lesão na coxa, precisou ficar no banco em vários jogos, entrando em momentos certos, como a disputa de pênaltis.
Moacir saiu do banco de reservas para defender a última cobrança do Vasco, que garantir o título sul-mato-grossense.
'Foi muito gratificante, é um trabalho de muitos anos. A gente que tem uma deficiência tem que se superar mais ainda", disse.
Mais que esporte
O time tem foco no rendimento dos atletas, para as competições nacionais e possíveis convocações do elenco. Mas, para além da quatro linhas, o olhar do projeto é sempre voltado ao desenvolvimento social de cada integrante.
–"A educação é um processo, que começa na escola, mas o esporte é uma ponte. Vários deles, quando estão na escola, acabam aparecendo no contra turno, e conhecem a modalidade. Eles vão evoluindo, como pessoa e atleta, né", relatou Yara.
Caira, time de MS, é pentacampeão do Brasileiro de Futebol PC.
Arquivo pessoal
Conhecedor dos dois lados da moeda, atleta e professor, Marcos reconhece a importância do esporte para tirar a pessoa com deficiência da marginalização.
"É fundamental dar seguimento nesses projetos, o esporte abre portas. Assim a gente cria crianças independentes, sai daquela de coitadinho, ensina a garra e determinação", avaliou.
Dificuldades
"Hoje, o nosso maior desafio é verba. Agora mesmo, a gente tem que ir atrás de uniforme completo, aqui o que a gente tem é o incentivo do Bolsa Atleta, de transporte (para campeonatos), mas não tem salário", disse Yara.
Para tentar melhorar a situação financeira da equipe, Yara revelou que a diretoria, além de seguir pleiteando os benefícios habituais, está mirando a entrada no Comitê Brasileiro de Clubes Paralímpicos (CBCP).
"No CBCP podemos reverter apoio pro clube através de projetos e editais. Estamos organizando a documentação pra isso, porque tem algumas exigências", completou.
Como participar do time?
Para integrar a equipe, é preciso ser elegível para modalidade futebol PC, ou seja, ter paralisia cerebral, decorrente de sequelas de traumatismo crânio-encefálico ou de acidentes vasculares cerebrais.
Treino do Caira, antes da disputa final do Brasileiro de Futebol PC.
Arquivo pessoal
"Tem que apresentar o laudo e a idade mínima é 14 anos. A gente começa com a iniciação e vai até o treinamento", explicou a presidente do time.
Os treinos seguem dois dias por semana, às terças e quintas-feiras, das 8h às 10h, com apoio do Rádio Clube, parceiro do time desde o início das atividades.
O que é o futebol PC?
O futebol PC, conforme o Comitê Paralímpico Brasileiro (CBP), é praticado por atletas com paralisia cerebral, decorrente de sequelas de traumatismo crânio-encefálico ou de acidentes vasculares cerebrais.
As regras são da FIFA, mas com algumas adaptações feitas pela Associação Internacional de Esporte e Recreação para Paralisados Cerebrais (CP-ISRA). Os atletas são separados por classificação funcional, sendo três no total, considerando os graus de comprometimento dos atletas. Entenda:
FT1 – Comprometimento severo
FT2 – Comprometimento mediano
FT3 – Comprometimento leve
O campo tem, no máximo 75m x 55m, com balizas de 5m x 2m. A marca do pênalti fica a 9,20m do centro da linha de gol. Cada time tem sete jogadores (incluindo o goleiro) e sete reservas.
A partida dura 60 minutos, divididos em dois tempos de 30, com um intervalo de 10. Não existe regra para impedimento e a cobrança lateral pode ser feita com apenas uma das mãos, rolando a bola no chão. Saiba mais aqui.
O título
Caira e Vasco são adversários antigos, se enfrentaram em finais nos últimos três anos, sendo que a equipe de MS conquistou o troféu em 2022 e o time carioca em 2023 e 2024. Neste ano, as equipes chegaram à final com 100% de aproveitamento.
A decisão recente foi acirrada, como já era esperado. O Vasco abriu o placar aos 22 minutos da primeira etapa, com Vinigol, após contra-ataque puxado por Bira. O empate veio no segundo tempo, Dudu aproveitou falha da defesa adversária e deixou tudo igual.
Caira, time de MS, vence o Vasco e conquista o pentacampeão do Brasileiro de Futebol PC.
Alessandra Cabral/CPB
O time carioca ainda teve um jogador expulso, aos 12 minutos, Leo fez falta em Dudu e, após revisão do lance pelo árbitro de vídeo (VAR), foi para o chuveiro mais cedo. O empate persistiu e a definição foi para os pênaltis.
Abrindo as batidas, Barta, Felipe Rafael, Evandro e João Messi converteram para o Vasco. Na sequência, Gustavo Gomes, Angelo, Piquet e Ronaldo igualaram as penalidades. Na última cobrança, Matheus, ex-jogador do Caira, parou no goleiro Moacir.
Jefferson Luiz, capitão da equipe sul-mato-grossense, assumiu a missão de bater a cobrança do título e converteu, garantindo o pentacampeonato do Caira.
“Antes de chegar na bola, passou um filme na cabeça: treinos, sacrifícios, tudo que enfrentamos na modalidade. Hoje, o Brasil viu o que é o Futebol PC. Estou muito feliz por realizar esse sonho”, declarou Jefferson a ANDE.
Jefferson Luís, capitão do Caira, converteu cobrança decisiva para o título.
Guilherme Lesnok
Ao longo da competição, o Caira conquistou quatro vitórias e um empate, chegando a 15 gols feitos e seis sofridos.
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