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Inclusão escolar de crianças com autismo exige preparo, empatia e políticas públicas efetivas

O debate sobre a inclusão de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no ambiente escolar ganha cada vez mais relevância, à medida que cresce a visibilidade do tema. Juntamente com o aumento da conscientização sobre os desafios enfrentados por essas famílias e pela comunidade escolar. Garantir o direito à educação inclusiva vai muito além da matrícula: exige preparo técnico de professores e colaboradores da escola, sensibilidade humana e ações efetiva entre a escola, a sociedade e o poder público.
Espaço de acolhimento e respeito às singularidades
O processo de inclusão deve estar comprometido com o reconhecimento das particularidades que se manifestam de maneiras distintas em cada indivíduo. Crianças com TEA podem apresentar hipersensibilidade a estímulos como luzes, ruídos e toques, além de dificuldades na comunicação social e necessidade de rotinas previsíveis e repetitivas. Quando esses aspectos não são compreendidos e respeitados, o ambiente escolar pode se tornar desafiador e, por vezes, hostil para a criança.
É fundamental, portanto, que os profissionais da educação estejam devidamente capacitados para promover uma abordagem pedagógica inclusiva, que leve em consideração as necessidades específicas de cada estudante. No entanto, em contradição a esse princípio fundamental, a Prefeitura de Florianópolis tem adotado medidas que fragilizam a estrutura de apoio pedagógico para estudantes com deficiência, como a substituição de professoras especializadas por auxiliares de sala, muitas vezes sem formação específica na área de educação inclusiva. Tal decisão representa um claro retrocesso nas políticas de inclusão, pois desconsidera a complexidade das demandas pedagógicas e emocionais apresentadas por alunos com TEA.
Como garantir uma formação adequada e contínua para os profissionais da educação se o próprio poder público municipal atua de forma excludente, enfraquecendo a presença de especialistas nas salas de aula? Em vez de ampliar os investimentos na capacitação docente e na valorização dos profissionais especializados, o município opta por soluções paliativas que comprometem diretamente o direito ao pleno desenvolvimento da criança.
A construção de uma escola verdadeiramente inclusiva passa, antes de tudo, pelo reconhecimento da importância de uma equipe pedagógica preparada, valorizada e amparada por políticas públicas coerentes com os princípios da equidade. Qualquer tentativa de inclusão que não seja acompanhada de investimento real em
formação e estrutura corre o risco de se tornar mera formalidade, e não um instrumento de transformação social.
Projeto Social que faz o trabalho de conscientização nas escolas: a experiência vivida na Escola Estadual Dom Jaime
Exemplo concreto desse esforço por uma educação mais humana e inclusiva foi a ação realizada pelo projeto social TEA TAPERA em parceria com a UFSC, no dia 5 de abril na Escola Estadual Dom Jaime Câmara, na freguesia do ribeirão da ilha. Na ocasião, foi promovida uma série de apresentações voltadas à conscientização sobre o autismo junto aos alunos da instituição.
Durante o evento, foram abordados temas como a importância de respeitar as dificuldades e limites das crianças com TEA, a forma correta de interagir com colegas neurodivergentes e o impacto de estímulos como barulho excessivo e toques físicos, que muitas vezes desconfortáveis ou até mesmo dolorosos para crianças autistas. O filme passado foi recebido com grande receptividade pelos estudantes, que demonstraram curiosidade, empatia e interesse em compreender melhor o universo de seus colegas com autismo.
Iniciativas como essa são fundamentais para a construção de uma cultura escolar verdadeiramente inclusiva. Quando os alunos compreendem que determinadas atitudes ou estímulos podem desregular um colega com TEA, passam a agir com mais responsabilidade, sensibilidade e respeito. Educar para a inclusão é também educar para a convivência cidadã, e isso só é possível com a união dos projetos, como o TEA TAPERA, e da comunidade escolar.
Esta vivência na Escola Estadual Dom Jaime, demonstrou que a mudança começa no contato direto, na escuta sensível e no trabalho de base com os próprios estudantes. Quando se fala com os alunos sobre respeito, empatia e limites, constrói-se um alicerce sólido para a verdadeira inclusão.
Contudo, para que esse movimento se amplie, é imprescindível que o Estado de Santa Catarina avance com políticas públicas estruturadas, voltadas à garantia de uma vida comum, plena e digna para todas as crianças com TEA. Inclusão não pode ser exceção: deve ser regra, direito e prioridade.
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